A Inocência é uma benção

            Poucas coisas na vida me fazem sentir triste, solitário, impotente e melancólico. A própria solidão é uma delas. Sou um homem que não aprendeu, mas nasceu com a com necessidade extrema de estar junto de alguém, e com uma vontade igual de ficar sozinho de vez em quando. Quando penso nisso me lembro de uma música que diz: “Sou uma criatura estranha, com uma solidão tamanha, daquelas que sempre tem que estar perto de alguém pra conseguir ficar bem, e que quando não tem ninguém faz manha”. - É... Essa música diz tanto que não sei como ela não tem meu nome.

Sempre me encontro com um sorriso no rosto, normalmente não me preocupo com coisas que fariam outros arrancarem seus próprios lábios de tanto se morderem de angústia, ansiedade e preocupação. Chega a ser engraçado ver como algumas pessoas sofrem por tão pouco e parecem que tem medo de relaxar. Gandhi já dizia (quase isso): “Se um problema tem solução, você não precisa se preocupar com ele. Se um problema não tem solução, então você não precisa mesmo se preocupar com ele.” – Praticamente minha filosofia de vida. Ocupar-se apenas de aproveitar o dia... O resto se resolve sozinho, no caminho.

Mas apesar de ser sempre tão sereno, existe um momento no qual não consigo me manter de cabeça erguida. É quando – não – me deparo com minhas próprias lembranças.

Controverso? Pra mim é pouco... Eu não faço o mínimo sentido às vezes.

Acho que poucos podem dizer com a propriedade com que digo, o quanto é ruim se deparar com suas lembranças e sentir saudades de tudo o que teve e do que nunca teve. Algumas músicas, algumas roupas, alguns rostos me jogam direto para um lugar no passado onde é muito difícil escapar. Quando me deparo com minhas lembranças me vejo sempre absorto em momentos que nunca mais voltarão. Nunca mais. E o pior é olhar para o passado e cada vez mais me arrasar com o futuro que pouco, ou nada, me agrada e um presente que tem minimamente capacidade de satisfazer minhas necessidades de carinho, compreensão, desejos e amor.

Poderia vir aqui e dizer que não tenho tudo o que amo, mas amo tudo o que tenho. Fato. Mas não dá pra ser sempre modesto e humilde pra dizer que isso basta. Eu quero mais.  Mais de mim. Mais dos outros. Mais do que já fui. Mais do que já foram. Já fui mais feliz, e quero isso tudo de volta.

Lembro-me de quando era mais jovem e tudo parecia ser mais fácil. A inocência me levava por rotas antes impensáveis, trilhas inimagináveis e encruzilhadas inesperadas. Mas tudo era mais gostoso... A vida tinha um sabor diferente. Um sabor de aventura. Tudo era novo e eu podia sentir a adrenalina pulsando e me fazendo sentir-me mais vivo. Como o sofrer era bom...

Hoje tudo ficou mais frio. As coisas têm o mesmo ou talvez mais valor, mas mesmo assim tudo se tornou igual demais. Todos se tornaram iguais demais. Inclusive eu. Eu que antes era emotivo, hoje me vejo mais racional. Eu que antes era romântico, hoje me vejo menos passional.

Hoje meus sentimentos derivam dos meus pensamentos. Ontem meus pensamentos vinham dos meus sentimentos.

Você pode até achar que não evoluí nada. Seguindo essa linha de pensamento eu ainda sou apenas um garoto inocente que não conhece nada da vida. Mas minha única certeza sempre foi a de que eu quero seguir meu coração, e não minha mente. Pode me dar um motivo para não acreditar que isso me fará feliz? E você... que denigre o que é passional, é feliz sendo racional?

Kant uma vez disse: "A inocência é uma coisa admirável; mas é por outro lado muito triste que ela se possa preservar tão mal e se deixe tão facilmente seduzir." - Ele estava fatidicamente correto...

            Quero minha inocência de volta. Quero meu passado presente. Só assim vejo um futuro feliz. Mas mesmo assim não caio... Têm muitas lágrimas aqui. Mas amor em dobro.

Guilherme Euripedes